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exposições documentais > Delfim Amorim
Delfim Amorim : em casa [2 abril 1917 - 10 abril 1972]

Delfim Amorim : em casa [2 abril 1917 - 10 abril 1972]

Delfim Amorim : em casa [2 abril 1917 - 10 abril 1972]

[ Exposição “Delfim Amorim em casa” ]

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O Homem

Filho de Antonio Fernandes Amorim e de Joaquina Gomes Bouça Nova, Delfim Fernandes Amorim nasceu a 2 de abril de 1917, na Freguesia de Amorim – Concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, Portugal.

Toda a sua formação pré-universitária ocorreu na Póvoa de Varzim, de onde saiu para a cidade do Porto a fim de cursar arquitetura na Escola de Belas Artes. Em 1947, formava-se nesta escola, tendo ainda como estudante, estagiado no escritório do arquiteto Antonio Fortunato de Matos Cabral.

Recém-formado em Portugal, mostrou-se já bastante atuante, não somente como profissional de projetos arquitetónicos, mas, também como participante de transformações da vida cultural desse País.

A arquitetura portuguesa passava, então, por um processo de renovação que se manifestava, com maior intensidade, nas duas principais cidades do país – Lisboa e Porto. Enquanto na capital se construía mais, era na cidade do Porto onde se encontravam as obras mais inovadoras. Amorim fazia parte do grupo de arquitetos de vanguarda do Porto e, como tal, elaborou vários projetos de arquitetura residencial, executados em Póvoa de Varzim, Guimarães, Vila do Conde, Porto, Elvas e Paredes. Alguns desses projetos vieram a ser publicados na revista “Arquitetura” em 1948.

A rivalidade entre as “escolas” do Porto e de Lisboa motivou um intercâmbio de experiências entre os arquitetos que exerciam suas profissões nessas cidades. Organizaram-se exposições de arquitetura ora numa cidade ora na outra e, nessas oportunidades, os arquitetos se deslocavam estreitando cada vez mais o relacionamento profissional a ponto de realizarem, em 1949, o I Congresso de Arquitetura, em Lisboa.

Amorim participou desse congresso com seus projetos, e de outras exposições dentre as quais deve-se destacar aquela realizada por ocasião do Congresso Luso-Espanhol de Arquitetura, e outra, instalada pela Organização em Defesa da Arquitetura Moderna (ODAM) no Ateneu Comercial do Porto, ambas em 1951. Ainda neste mesmo ano, participou do VI Congresso da Federacion de Urbanismo y Vivienda. Teve projetos seus ainda expostos numa mostra organizada por um grupo de arquitetos da Póvoa de Varzim, em 1952.

Associado ao arquiteto Oliveira Martins, obteve o 2.º lugar no concurso de projeto para monumento a Eça de Queiroz e outro 2.º prêmio no concurso para o projeto de um cinema em Famalicão, Portugal.

Promoveu ainda a divulgação da arquitetura pelos meios que se lhes ofereciam para atingir a sociedade.

Assim, escreveu artigo sobre arquitetura moderna na revista “Vértice” de Coimbra e proferiu conferências sobre o mesmo tema no Clube e na Filantrópica da Póvoa de Varzim, em 1950, e no Ateneu Comercial do Porto, em 1951.

Atuou como professor assistente na cadeira de Grandes Composições de Arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto nos anos de 1950 e 1951.

Foi membro fundador da ODAM (1951) além de sócio do Sindicato Nacional dos Arquitetos.

Como se pode verificar, a vida intensa de Amorim em Portugal dizia bem de sua fé nos ideais democráticos bem como nos postulados da arquitetura moderna que tão bem defendia e divulgava.

Em 24 de dezembro de 1951, chegou a Brasil, fixando-se no Recife, onde residiam familiares e amigos.

Nesta mesma época, Acácio Gil Borsoi também chegara ao Recife, e foi com ele que Amorim começou a trabalhar, no escritório da Rua da União, na mesma casa em que estava sediado o 1.º Distrito da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Pouco depois, era admitido no Curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes do Recife, como assistente de Borsoi na disciplina “Pequenas Composições”, função que desempenhou de 1953 a 1955.

Em 14 de maio de 1956, naturalizou-se brasileiro.

Paralelamente à sua intensa atividade como arquiteto de obras, Amorim logo firmou-se como um dos professores mais respeitados, devido ao seu lastro cultural e ao domínio teórico que demonstrava no trato das questões que o projeto de arquitetura suscitava.

Assim de 1956 a 1959 passou a assumir a regência da disciplina de “Pequenas Composições” do Curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes e, como tal, fazia parte da Congregação, representando os Auxiliares de Ensino.

Em 1957 acompanhou uma turma de alunos da faculdade em excursão cultural pela Europa.

Em 1959, foi criada a faculdade de Arquitetura, desvinculando-se da Escola de Belas Artes e funcionando provisoriamente no antigo Colégio Jesuíta de Olinda. Evaldo Bezerra Coutinho comandou a luta pela separação, com apoio irrestrito de professores e estudantes.

A partir de então e até o seu falecimento, Amorim regeu a disciplina de “Composição de Arquitetura” da nova faculdade.

Alguns colegas foram seus assistentes, muitos foram seus alunos, e os comentários que ele fazia sobre os trabalhos que se lhes apresentavam eram ouvidos com inusitado interesse, ora pela seriedade, ora pela irreverência com que eram feitas as críticas.

Simultaneamente às suas atividades de arquiteto e de professor, integrou-se na vida cultural do Recife proferindo palestras na Escola de Belas Artes (1959 e 1964), na Faculdade de Filosofia do Recife (1959), na Galeria de Arte da Casa Holanda e na própria Faculdade de Arquitetura.

Teve ainda artigos em jornais da cidade como o Jornal do Commercio (1958) sob o título “Arquitetura e Construção” e vários outros, no Jornal Pequeno, em 1963.

Em agosto de 1960 participou do I Encontro de Diretores, Professores e Estudantes de Arquitetura realizado em Belo Horizonte.

Em 1961, juntamente com Wandenkolk Tinoco, Amorim reformula a cadeira de Modelagem e passa a regê-la também a partir de 1962, já com a denominação de “Plástica”, onde o aluno, já no primeiro ano, começava a experimentar os processos de criação de espaços úteis, rompendo como a alienação academicista anterior que visava mais habilidade com os trabalhos manuais do que a percepção das possibilidades estruturais e plásticas dos materiais de construção.

De 1961 a 1963, juntamente com os professores Acácio Gil Borsoi e Heitor Maia Neto e, representando os estudantes, Geraldo Gomes da Silva, compôs a Comissão de Reorganização do Currículo Escolar da Faculdade de Arquitetura, da então Universidade do Recife.

Em abril de 1964, Amorim foi preso em sala de aula, tendo voltado alguns dias depois ao convívio de colegas e estudantes, devido à evidente inconsistência das acusações proferidas contra si.

Seu papel como educador tem, até agora, servido de exemplo no Departamento de Arquitetura, que em toda sua história jamais teve, no seu quadro de professores, alguém que, como ele, tenha contribuído tanto e com tal dedicação e qualidade, para o desenvolvimento do ensino.

O conhecimento de que Amorim dispunha e transmitia não se limitava à arquitetura contemporânea. As suas incursões pelo passado eram sempre um exercício que o instrumentava, e aos seus ouvintes, para perceber melhor o fenômeno da produção de espaços arquitetônicos. Com tal bagagem cultural, era natural que fosse sempre solicitado a emitir opiniões sobre os mais variados temas que se referiam à arquitetura.

Assim, colaborou bastante com o Serviço Federal de Proteção aos Monumentos Nacionais, hoje chamado Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC) sempre por solicitação do chefe do distrito regional, sediado no Recife, engenheiro Ayrton da Costa Carvalho.

Os pareceres que emitiu sobre questões em que se envolveu o IBPC, alguns dos quais estão aqui publicados, constituem contribuições à maneira de pensar o monumento inserido no sítio urbano.

Por várias vezes foi chamado a participar de comissões julgadores e de concurso de projetos, tais como: Museu do Açúcar, Caxangá Golf Club em 1959, Móveis da Casa Holanda em 1962 e Premiação Anual do IAB-PE em 1968.

Como sócio efetivo do IAB-PE, sempre participou ativamente, deslocando-se, inclusive quando já doente, para votar em eleições.

Avesso a receber homenagens, foi induzido em 1969, por ocasião da Premiação Anual do IAB-PE, a apresentar um dos seus inúmeros projetos, o qual foi premiado.

Acometido de doença incurável, Amorim passou a ter dificuldades de locomoção. Quase não podia deslocar-se para o seu escritório, mas não faltava à faculdade, na época, bem próxima a sua residência.

A direção da Faculdade de Arquitetura reservou, no edifício, um espaço onde ele pudesse continuar a exercer as suas atividades profissionais.

Passou-se então, na realidade, a se desfrutar de sua presença em tempo integral pois, para ele, não havia impedimento para receber e atender consultas de quem o procurasse.

Infatigável, apaixonado, irreverente, culto, o arquiteto nos deixou definitivamente órfãos em 10 de abril de 1972.

In: Delfim Amorim: arquiteto. Pernambuco: Instituto de Arquitetos do Brasil, 1991



 
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