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| | biografia João Pinheiro Cadilhe, oriundo da nata da nossa classe piscatória, nasceu a 08 de Maio de 1892
(na Rua da Areia, depois denominada de 31 de Janeiro) e faleceu no dia 27 de Junho de 1975,
com 83 anos de idade.
Foi filho de Manuel Pinheiro Cadilhe e de Bernarda Francisca, pescadores naturais da Póvoa de
Varzim; neto paterno de António Pinheiro Cadilhe e de Rosa Maria e materno de João António
Cristelo e de Ana Francisca.
Foi seu padrinho João Rodrigues Cristelo Povoas, casado, proprietário, da rua do Paulet (actual
rua do Patrão Lagoa) e sua madrinha Maria da Conceição, viúva, da Rua da Areia.
Foi baptizado na Igreja da Matriz pelo coadjutor Padre Afonso dos Santos Soares, no dia 10 de
Maio de 1892.
Emigrou para o Brasil quando tinha 16 anos, em 1908, dedicando-se à vida piscatória, na cidade
do Rio de Janeiro, regressando ao fim de quatro anos; assentou praça em 15 de Janeiro de 1913,
tendo sido licenciado em 10 de Junho do mesmo ano.
Voltou para o rio de Janeiro, onde se encontrava em 1920, quando foi envolvido pelo processo
do repatriamento dos nossos pescadores no Brasil, o que obrigou a um regresso forçado, aos
28 anos de idade, vitima do racismo que se verificou naquele país irmão.
Esteve depois embarcadiço em África, tendo passado por Lourenço Marques, Beira e Ilha de
Moçambique, exercendo sempre actividades piscatórias, arte em que era perito entendido.
Regressado definitivamente a Portugal, sempre na Póvoa exerceu as suas múltiplas actividades,
agora em terra.
Foi chefe da Secretaria da Casa dos Pescadores, recém-criada (inaugurada solenemente em 15
de Agosto de 1927), tendo sido sempre ouvido atentamente pelo seu grande amigo e compadre
Dr. Vasques Calafate, sobre complexos problemas da pesca.
Conheci mais intimamente João Respeito desde cerca de 1937, ano em que me formei, pelo que
tive muitas oportunidades de me aperceber da sai forte personalidade e de se tratar de um
homem bom e de um homem de bem, sempre disposto a trabalhar graciosa e dedicadamente
pela sua Póvoa; assim, serviu na vereação municipal, na junta de freguesia, na Mesa da Santa
Casa da Misericórdia (de que fora secretario) e em outros organismos w associações locais.
Estava sempre disponível, para o bem da Póvoa:
Na classe piscatória, de que era oriundo, era muito estimado, ouvido e respeitado – como
homem de respeito da classe, passou a ser conhecido em todas as classes sociais da Póvoa
como Sr. João Respeito, denominação de que muito se orgulhava nunca uma alcunha fora tão
bem adaptada à pessoa.
Tive, portanto, muitas oportunidades de lhe apreciar as suas qualidades pessoais, os seus dotes
de inteligência e de observador perspicaz e as suas aptidões para o trabalho árduo e fecundo.
Foi sempre um lutador, nunca recusando o seu contributo para qualquer serviço. Bem-falante,
bem apessoado, com boa presença física, dotado de inteligência arguta, escrevendo com
facilidade, dotado de boa memoria, era um conversador emérito, proporcionando em convívio
agradabilíssimo.
Sempre prestável, a sua opinião era escutada com interesse e acatamento pelos poveiros das
mais diversas camadas sociais.
João Respeito era profundo conhecedor dos usos, costumes e tradições dos nossos pescadores
e publicou, na sua prosa escorreita, no boletim «Douro Litoral», 4ª série, VII e VIII (Porto,
1957), pp. 23-31 e 5ª série, VII e VIII (Porto, 1953), pp.77-80, dois artigos intitulados: «As
conhecenças dos pescadores poveiros» e «Os Invernos dos pescadores poveiros nos tempos
idos (o correr da praia, o fazer das redes e o beber da campanha)». Estes artigos foram
transcritos no boletim cultural PÓVOA DE VARZIM, vol. IX, 1970, nº 1, pp.157 e seguintes e vol.
IX, 1970, nº 1, pp. 168 e seguintes.
Deixou inédito um escrito intitulado repatriamento dos poveiros no Brasil em 1920 – breves
notas de João Pinheiro Cadilhe», 4 folhas dactilografadas e assinadas, tendo subposto ao nome
a designação de «Um dos componentes» e cujo original se encontra á guarda do arquivo
histórico municipal. (…)
Dotado de sólida formação moral e cívica, foi João Respeito um chefe de família exemplar,
tendo deixado uma numerosa prole (14 filhos e ainda os seus descendentes) o exemplo de bom
marido, bom pai, bom avô, e de prestante cidadão de que muito se orgulham.
A Voz da Póvoa. Póvoa de Varzim: A Voz da Póvoa, (23 Fev 1995), p. 6 e 16.
BARBOSA, Jorge – Toponímia da Póvoa de Varzim. Póvoa de Varzim Boletim Cultural. Póvoa de Varzim:
Câmara Municipal, Vol. XXXIII (1996-97), p. 269-270.
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