Condecorações Por Cruz Malpique
“Medalhas de prata, cinco lhe foram concedidas como prémios ao Mérito, Filantropia e Generosidade de que deu provas flagrantes.
Por igual motivo lhe foi concedida por D. Luís, a Medalha de Ouro, a 10 de Agosto de 1882.
São do «Requerimento» dirigido ao Rei, e escrito por Oliveira Martins, por procuração dos Poveiros, as palavras seguintes:
«...Tais são Senhor, os selvagens vosso súbditos, de que uns exemplares figuraram com os seus fatos de flanela branca e o seu gorro vermelho na procissão camoniana. O mais célebre dentre eles é o Maio, que ao lado de Vossa Majestade foi condecorado pela Humanitária do Porto.
Ora as condecorações Senhor, são como as esmolas e os discursos: não se lhe exagere o valor! Estão no seu lugar como consagração ou complemento das coisas, mas tornam-se um escárnio, até uma indignidade, quando se quer com elas evitar o cumprimento dos deveres. Condecorado o Poveiro que tem salvado tantos náufragos sem dar um passo para evitar a causa dos naufrágios, é um proceder que nem a justiça, nem o bom senso mais elementar aprovam».
São do mesmo «Requerimento dos Poveiros», publicado no Jornal do Comércio, de 22 de Agosto de 1882, as palavras que vamos ler:
«Não basta que ao peito do Maio se pendure a Medalha de Honra, [...] é necessário que, na praia da Póvoa, construam molhos de abrigo – exactamente para não haver mais naufragos a salvar, nem mais Heróis a enobrecer».
José Rodrigues Maio, que era analfabeto, alegava, muito senhor de si, que sabia falar ao Rei.
A família real veio ao Norte, na altura em que Rodrigues Maio era condecorado com a Medalha de Ouro. Recebeu-a no Paço dos Carrancas, hoje Museu de Soares dos Reis.
Foi nessa altura que Maio ofereceu ao Rei um cofre forrado exteriormente de conchas. Virando-se para o Rei, disse-lhe: «Trago aqui uma lembrança para Vossa Majestade»; e entregrando o cofre ao escudeiro, recomendou-lhe: - «Leve, leve lá para cima e dê-o à Senhora do meu mando».
A Senhora era a Rainha D. Maria Pia.”
In: MALPIQUE, Cruz – O pescador poveiro José Rodrigues Maio. Um paradigma de abnegação e coragem. Póvoa de Varzim Boletim Cultural. Póvoa de Varzim: Câmara Municipal, Vol. XXIV, nº1 (1986), p. 8 e 9. |