João Francisco Marques, mais conhecido por Padre João Marques, faleceu no passado dia 6 de Março na Póvoa de Varzim.

Em 1995, a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim atribuiu ao Professor Doutor João Francisco Marques a Medalha de Reconhecimento Poveiro, grau prata, traduzindo a gratidão pelos múltiplos serviços que, como Professor e Investigador, prestou à Povoa de Varzim e ao seu concelho.

João Francisco Marques nasceu a 9 de Janeiro de 1929, na Póvoa de Varzim. Estudou Humanidades, Filosofia e Teologia nos Seminários Arquidiocesanos de Braga. Matriculou-se na Universidade de Coimbra (1961) onde se licenciou em História (1970) com dezasseis valores. Habilitado com o Curso de Ciências Pedagógicas (1971), frequentou o estágio de História e Filosofia no Liceu Normal D. Manuel II (1971-1972).
Professor efectivo e metodológico do ensino liceal (1973), docente da Faculdade de Letras do Porto (1976) e da Universidade Católica nos núcleos de Braga (1977-1979) e Porto (1986-1992), seguiu em Paris (1979-1981) o curso de Jacques Le Brun, na École Pratique des Hautes Études (Sciences Religieuses: Histoire du Catholicisme) e o seminário especializado (Recherches d’Histoire Religieuse) de Jean Delumeau, titular da cátedra de Sociologie Religieuse (Histoire des Mentalités Religieuses dans l’Occident Moderne), no Collège de France (Sociologie Religieuse) que orientou e arguiu a sua tese de doutoramento em História, na Universidade do Porto (1984), tendo sido aprovado por unanimidade com distinção e louvor.
Professor associado em 1987, foi catedrático de nomeação definitiva até à jubilação (1993-1999), na Faculdade de Letras do Porto, de que foi Presidente do Conselho Directivo (1984-1987) e onde leccionou matérias no âmbito da Teoria da História e da Cultura Portuguesa, havendo dirigido seminários do Mestrado de História Moderna.
Director do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim (1976-1985), recebeu em Londres o Prémio Internacional do European of the Year Award de 1980, concedido à melhor exposição temática apresentada pelos museus europeus e atribuído a Siglas Poveiras que concebeu e dirigiu, pertencendo-lhe a iniciativa da recuperação e ampliação do seu primitivo edifício. Foi assessor do realizador Manoel de Oliveira, no domínio da sua especialidade, para os filmes: Lisboa Cultural (1981), Non ou a Vã Glória de Mandar (1990), A Divina Comédia (1991), Um Filme Falado (2003), O Quinto Império – Ontem como Hoje (2004), tendo feito parte do elenco de intérpretes de O Princípio da Incerteza (2002), Espelho Mágico (2005), Cristóvão Colombo, O Enigma (2007), e Palavra e Utopia (2000), concebido a partir dos sermões e cartas do P. António Vieira, cabendo-lhe a responsabilidade da contribuição literária e histórica. Pertenceu aos Conselhos Científicos da Universidade do Porto e da Escola Superior de Educação de Bragança.
Foi académico de mérito da Academia Portuguesa de História, Presidente da Direcção do Centro de Estudos Regianos, membro do Centro Interuniversitário de História da Espiritualidade, do Centro de Estudos Africanos (FLUP) e do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.
As suas investigações e estudos centraram-se nas áreas da história das mentalidades, das ideias, da oratória sagrada, da espiritualidade, da apologética, da missionação ultramarina, da religiosidade popular, da cultura e da literatura portuguesa. Tem mais de uma centena de trabalhos dispersos em revistas científicas e inseridos em obras editadas no Brasil, Espanha, França, Itália. Publicou em livro: O Problema da Palestina e a Tutela dos Lugares Santos (1951); José da Silva Tavares e a actividade contra-revolucionária no período do liberalismo (1975); A Parenética Portuguesa e a Dominação Filipina (1986); José Régio e Flávio Gonçalves – os caminhos de uma amizade (1988); A Parenética Portuguesa e a Restauração 1640-1668, a Revolta e a mentalidade, 2 vols. (1989); O Clero nortenho e as invasões francesas – patriotismo e resistência nacional (1991); D. Duarte e a complexidade de um breve reinado. A Consciência do monarca e as responsabilidades do confessor régio (1995); Poder Eclesiástico e Implantação Regional. Os limites do Arcebispado Bracarense através dos tempos (1999); Raízes e Percurso de José Régio 1901-1969 (2001); Arcebispos de Braga oriundos do Ultramar (2002); Humanismos e Reformas [dir.] vol. II da História da Vida Religiosa de Portugal (2001); A Arquidiocese de Braga na Evangelização do Além-Mar (2002), galardoado com os Prémios Fundação Calouste Gulbenkian – Os Portugueses no Mundo e Prof. Gama Caeiro – Cultura e Mentalidades, da Academia Portuguesa da História; António dos Santos Graça (1882-1956) – um coração poveiro (2003); A acção da Igreja no Terramoto de 1755: ministério espiritual e pregação (2006); A utopia do Quinto Império nos pregadores da Restauração (2007); Sermões do Padre António Vieira. Morte e Sepultura. Oratória Fúnebre (2009); Obra Selecta – Tomo I Religião e Política, Vol. I e II (2010); Obra Selecta – Tomo II Religião, Política e Sociedade, Vol I (2013).

Nas Correntes d’Escritas 2015, no dia 25 de Fevereiro, no Cine-Teatro Garrett foi feita a apresentação da Obra Completa do Padre António Vieira, dirigida por José Eduardo Franco e Pedro Calafate. A obra, editada pelo Círculo de Leitores inclui 30 volumes. Para a concretização deste projeto, foi essencial a contribuição de João Francisco Marques, que dotou à obra o seu conhecimento de cultura e de religião e a vontade de realizar um sonho de há muitos anos.
A intervenção do Prof. João Francisco Marques nesta obra centrou-se nos sermões, que ocupam 15 volumes, e que António Vieira considerava serem “pobres choupanas” da sua escrita. João Marques considera isto contraditório, afinal, António Vieira ficou conhecido pelos 220 sermões que deixou (muitos outros se perderam).
Para o investigador poveiro, “esta obra era uma meta a alcançar e, pessoalmente, um sonho a concretizar”, já que dedica-se ao estudo da obra de Padre António Vieira desde os seus 20 anos de idade, sendo que só agora, tem a satisfação de ver concluída a publicação desta obra de “loucos”.
António Vieira foi “missionário, diplomata, pregador da corte, confessor de reis e príncipes”, mas “nem sequer se sabe onde param os seus ossos”, refletiu João Marques, que acrescentou: “A Obra Completa está publicada com um texto rigorosamente revisto e fidedigno”.